domingo, 18 de março de 2012

Sacor II - Finalmemte o navio...



Quando atraquei no cais de espera na Rocha tive a surpresa de ver que tinha á proa o famigerado Sacor II, navio esse que eu tinha tido conhecimento que tinha sido entregue (finalmente) pelos estaleiros de Peniche. Cheio de curiosidade fui fotografá-lo. O que vi confirma o que já se vem sabendo á muito tempo, má construção. O navio em lastro fica com as entradas do impulsionador de proa á mostra, bom para desferrar ou tirar eficiência ao sistema.
Andando á volta do navio pude reparar que ainda estavam várias caixas de ligações abertas e bobines de cabo... então o navio ao fim destes anos todos em Peniche não teve tempo de acabar a passagem de cabos??? As próprias caixas e passagens de cabos no convés que existem por uma questão de segurança anti-explosão estão interrompidas, nas curvas não existem....
O Rescue Boat no deck ocupa a passagem para a popa no lado Estibordo quase não permitindo a passagem de uma pessoa, aliás o motor do Rescue Boat não é SOLAS, basta olhar para o hélice do motor, os inspectores da Sacor Marítima deviam estar distraídos pois quando eu estava no Galp Marine eram uns chatos que raiava a estupidez.

Consegui uma visita ao navio e achei piada como um navio moderno e com volume tem camarotes duplos para a marinhagem, isso já não se usa. Tem um camarote para o armador, estranho num navio de tráfego local, podiam pôr lá um marinheiro para não estarem dois num camarote.
A cozinha tem as máquinas da lavandaria debaixo da bancada.... eu tenho esse sistema em minha casa, nunca vi num navio, acho que irá contra algum regulamento de higiene. O fogão é uma placa de vidro-cerâmica... óptimo para se usar em casa... num navio???? nunca vi e já estou a imaginar o pessoal a esfregar a gordura queimada em cima da placa com esfregona de palha de aço..... sem mais comentário.
O camarote do armador todo despainelado para passagem de cabos.... sem comentários.
Em todos os petroleiros que andei o sistema de controle do lastro está na sala de controlo das bombas para o operador da carga e descarga poder operar o lastro ao mesmo tempo. Neste navio o lastro é operado na casa da máquina, na única consola que existe na casa da máquina... sem comentários....!!!!
A casa da máquina não tem sala de controle.... mas tem uma oficina enorme com torno e tudo... de uma utilidade duvidosa para um navio que é de tráfego local e sem artífice no seu rol, mas não tem sala de controle, aliás não tem nada, só os painéis de controle agregados aos motores.
Os dois motores principais accionam alternadores e um azimutal cada um mas... quando um dos alternadores é ligado ao bow thruster é desligado da propulsão (informação recebida) o que não parece nem muito lógico nem muito seguro....
O motor principal liga ao azimutal por um veio e um sistema planetário, o accionamento da rotação é feito por um sistema hidráulico accionado pelo veio do motor. A ligação veio motor / power pack hidráulico é feito por meio de uma correia. Se ela se partir o motor fica sem governo. A sua substituição é demorada e não tem sistema de back-up.... eu considero o sistema de uma estupidez atroz e extremamente inseguro, nem sei como é que foi aceite e aprovado um sistema destes. Se o motor dedicado á propulsão e governo parte a correia enquanto que o outro motor está dedicado ao bow-thruster então temos desastre com certeza. A correia é fina e não inspira confiança.... 

Lembro-me de estar no Galp Marine, sermos 8 tripulantes e termos uma cadência de trabalho atroz, não parávamos. No Galp Marine éramos, comandante, imediato, piloto, chefe de máquinas, 3 marinheiros e cozinheiro. No Sacor II serão, mestre, motorista e 4 marinheiros. O Sacor II tem mais tonelagem que o Galp Marine. O Whitstar, navio que substituiu o Galp Marine e que vai ser substituído pelo Sacor II tem comandante, imediato, piloto, chefe de máquinas, 2º maquinista e 3 ou 4 marinheiros. Não sei qual a legislação que permite uma coisa destas, no fundo os três navios são navios de transportes de combustíveis... só se for porque o tal de Sacor II está registado como tráfego local e por isso não necessita de pessoal com tanta certificação.

Ficarei atento a mais desenvolvimentos desta "avis rara". Já é uma questão de teimosia e curiosidade o querer saber como este navio vai operar e acabar.

Resumo: Início da construção em 2006 num estaleiro (não me lembro do nome), continuação da construção na Naval Rocha, posto á venda como sucata e/ou por partes, retoma do projecto e levado para a Lisnave em Setúbal onde foi acabada a construção (ferro), levado para os estaleiros de Peniche para acabamentos em 2010 tendo saído em Março de 2012 tendo ficado na Rocha onde tirei estas fotos e o visitei, estando ainda em acabamento... QUEM PAGA ESTA INCOMPETÊNCIA TODA????? Quem são os responsáveis? QUANTO CUSTOU ESTA OBRA?????


Jimmy The Sailor

domingo, 11 de março de 2012

Uma curta - A inquirição.

O meu navio sofreu uma pequena avaria, uma pá do hélice partida e por isso fomos para a Lisnave em Setúbal fazer a reparação em doca seca. Até aí tudo normal, as decisões tomaram-se e o trabalho decorria sem interrupção. Até que, á tarde, recebi a comunicação do comandante que eu, ele o comandante e o 2º piloto teríamos que ir á Capitania prestar declarações.
O Comandante como mandam as regras tinha feito um "Protesto de mar" com a descrição da avaria, o que tinha sido feito e as decisões tomadas, também tudo normal e habitual. Só que as nossas autoridades, nesse caso a Capitania decidiu (se o tem que fazer é uma asneira) fazer inquirições sobre o protesto que tínhamos feito, ou seja, nós protestámos e a Capitania queria interrogar-nos sobre o protesto em si.
E lá fomos os três á Capitania tendo eu como Chefe de Máquinas, interrompendo o meu acompanhamento dos trabalhos em curso.
Na capitania fomos interrogados cada um por um inquiridor diferente, eu fui interrogado por uma senhora até bastante simpática mas que duvido da sua capacidade técnica para fazer tal inquirição, fui despachado ao fim de 5 minutos com o resultado de ter confirmado os dados já descritos. Os outros ficaram quase uma hora para.... confirmar os dados já por nós descritos no tal Protesto de Mar. Eu compreenderia esta inquirição se alguém ou algum organismo tivesse posto em causa as nossas declarações mas nada...Tive uma sensação de ser um criminoso ou suspeito de crime grave ao ser "inquirido" desta maneira.
E lá voltei para os meus trabalhos chateado com esta interrupção pois é sempre uma quebra no ritmo.


Publicado no SOL no sábado, 27 de Agosto de 2011

Trabalho de precisão...

Entrei na oficina e vi na bancada este aparato.... não resisti!


Não é preciso dizer que depois encontrei o objecto desta intervenção no caixote do lixo... Já não tinha a máquina fotográfica comigo.

Publicado no SOL no domingo, 21 de Agosto de 2011

Doença a bordo...

Estar doente a bordo é uma das coisas que o marujo não gosta, especialmente quando a maleita é daquelas bem desagradáveis, daquelas que deixa num cantinho uma simples gripe das galinhas. Estou a falar de uma mera cólica renal.
Embarquei, agora estou num porta contentores a fazer a carreira dos Açores, agora navego outra vez e até me afasto da costa. Como dizia, embarquei vindo de férias, segui para Leixões e depois a caminho de Ponta Delgada. No meio do oceano, acordei com uma vontade de mictar muito grande, acho muita piada á palavra mictar, e lá fui despejar águas á casa de banho. Só que não havia meio de mictar, estava preso. Sentei-me para relaxar e comecei a sentir uma certa dor / pressão na parte de baixo da bexiga, a dor aumentava mas como ela, a dor, é uma maricas trouxe como companhia a sua amiga a Náusea. Estava surpreendido, já tinha tido alguns maus bocados mas dessa maneira nunca. A dor até se suportava bem mas a náusea era terrível. De repente estava a sonhar e a acordar sem me lembrar onde estava e com uma certa dores de cabeça. - Bolas além das dores na bexiga e da náusea tenho dores de cabeça, isto está mau!! Só passados uns minutos me apercebi que estava deitado no chão da casa de banho, um cubículo minúsculo, todo torcido. Não tinha forças para me levantar, estava meio tonto e com dores de cabeça. Fiz um esforço enorme e levantei-me, estava todo molhado e apercebi-me então que me tinha mictado todo... olhei para o espelho e por cima do olho direito estava pousado o Galo de Barcelos.
O navio continuava a navegar e eu arranjei-me, fui tomar o pequeno almoço, e fui para a casa da máquina mas depressa voltei para o camarote, estava ainda todo abananado. Felizmente a crise foi curta pois não tive mais dores e consegui fazer a minha vida normalmente. Em S.Miguel falei com a minha médica em Lx e expliquei-lhe o sucedido, aconselhou-me a ir ao hospital fazer uma eco renal.
Lá fui eu chatear os senhores doutores do hospital de S.Miguel. O atendimento foi perfeito, o sistema funcionou na perfeição, as pessoas simpátiquíssimas mas por mais que dissesse que estava embarcado e que queria uma eco apenas tive direito a um Rx e umas análises e como não tinha patologia que justificasse não ia fazer a ecografia. Os exames não mostraram nada. Muito calmamente expliquei tinha não tido nenhum ataque de loucura e dado uma cabeçada na antepara e posto o meu olho direito todo negro, tinha desmaiado com uma dor localizada na bexiga mas foi inútil... eles tinham cumprido com o processo e assim mandaram-me de volta para o mar.
Só que sou teimoso e no Faial fui ao hospital outra vez, fui atendido por clínicos espanhóis, simpáticos e eficientes. e o resultado da eco foi simples:
- Pedras nos dois rins sem inflamação das vias
- Pedra na próstata ou na uretra prostática, a tal desgraçada que me tinha atirado para o chão.
Fui receitado e avisado que quando ela, a pedra, sair aquilo iria doer e para isso tenho as drogas receitadas. Vou fazer o meu embarque de 3 meses com a espada de uma cólica renal em cima da minha cabeça. Pode ser que ela saia um dia destes....
Os médicos de Ponta Delgada deveriam ser formados em não mandar para o mar um doente sem terem a certeza absoluta, nós não temos a ambulância dos bombeiros ali ao lado e se estamos no meio do oceano temos que aguentar e rezar que aguentemos. Infelizmente já tive muitos casos a navegar.... esforço a mais....
Agora sorrio e digo: A dor é sinal que estamos vivos.... e seja o que Deus quiser!!!!

PS. conto este caso pessoal para quem ler esta narrativa se possa aperceber-se de quanto vulneráveis estão os marinheiros fechados num navio no meio do oceano.

18 de Agosto de 2011, Horta e com uma leve dor....

Publicado no SOL na quinta-feira, 18 de Agosto de 2011

Crónicas Inglesas II

A história começa Domingo dia 10 de Abril de 2011, tinha acabado de chegar do Algarve onde tinha ido para uma almoçarada de Xamuares Kocuanas e um passeio para ver e fotografar as belas paisagens da costa de Albufeira.

Mas eu sou um gajo moderno, fanei o GPS á minha cara metade, a verdade é que ela mo ofereceu mas fica-me melhor dizer que o fanei e comecei a preparar a viagem. Liguei o bicho ao meu portátil onde tenho a aplicação do Garmin, introduzi as coordenadas, tanto de Heathrow como de Pembroke, coordenadas essas sacadas do Google Earth e comecei a preparar a rota.

O GPS da minha bondosa (foi ela que me emprestou o GPS) cara-metade só tinha os mapas Ibéricos por isso carreguei com os mapas necessários á viagem. Por via das dúvidas imprimi um roteiro que saquei do Google Maps. Todo contente relaxei e comecei mentalmente a meter mudanças com esquerda e a tentar lembrar-me dos meus tempos de Moçambique onde se conduz á inglesa.

2ª Feira foi um dia um bocado atarefado, tomar conta da neta pois a tratadora dela estava doente e eu tive que ficar com a miúda, felizmente o stock de “pintarolas” estava em cima e o dia passou-se até eu me ir deitar já bastante tarde e acabar por quase não dormir, acordei ás 05:30 da manhã pois queria estar no aeroporto á 08:00.

Apanhei o comboio, não valia a pena a pequena ir levar-me ao aeroporto pois iria apanhar um trânsito terrível, apanhei o táxi e desembarquei na Portela. Fiz o check-in, fui beber um café e pus-me a esperar lendo um livro no meu Kindle e ouvindo música no meu iPod, como eu disse sou muito moderno.

Fiz o voo sem novidade apenas com o detalhe que depois de ter bebido o café do avião tive, mesmo antes de aterrar, ido a correr ao WC, digamos, um bocadinho de aflitos.

Finalmente em Heathrow onde me dirigi ao balcão da Avis para levantar o meu carro. Não era assim tão simples, tive que apanhar o transfer da Avis para o seu centro de recolha e apanhar lá o carro. O meu trajecto impresso saía do Terminal 1 mas eu confiava no meu GPS.

Quando vi o carro lembrei-me do meu filho mais velho, um Alfa Romeu de 2 portas todo XPTO, para mim um problema pois não gosto muito de carros muito modernos e cheios de electrónicas, a minha modernice tem limites.

Embarquei a minha bagagem e comecei a rolar com a vozinha doce do GPS a dar-me indicações bastante precisas e eu comecei a relaxar.

Ia já numa auto-estrada todo contente e super confiante na máquina maravilhosa que é o GPS quando a vozinha doce me disse para sair á esquerda e depois á direita, estranhei mas como sou moderno obedeci… quando me lembrei que não tinha reprogramado o GPS depois do ultimo upgrade para que ele só tomasse as auto-estradas, uma contrariedade mas segui em frente, a conduzir já não podia começar a mudar os settings do aparelho, além de que com a pressa não o fixei no sítio mais acessível para o manipular, não contei com essa possibilidade.

Seguindo as indicações da vozinha doce comecei a estranhar não ver carros e apenas umas vaquinhas risonhas a olhar para mim com aquele ar bovino, comecei a ficar preocupado.

De repente caiu a realidade, o mapa do GPS ficou branco, sem estradas nenhumas e a voz doce já muito nervosa só repetia: “Recalculando, recalculando…”, eu estava totalmente perdido.

Mas apesar de ser moderno também sou marinheiro e já há uns anos, mesmo antes de haver GPSs por isso tentei acalmar-me e rumar na direcção de W / NW, ira para os lados do País de Gales. E guiei assim ainda umas milhas até entrar numa povoação e tentar pedir ajuda. Consultei o meu percurso impresso e resolvi apanhar a M4 e que me levaria até Gales. O sorriso do pessoal era delicioso, especialmente quando eu dizia que estava perdido e queria ir para Pembroke.

Com as indicações dadas lá fui andando e dei com a famosa M4 e apanhei-a logo…. Em direcção a Londres, foi um bocado frustrante. Enchi-me de coragem saí da M4 para fazer a inversão de marcha o que consegui com alguma dificuldade.
A vozinha doce não se cansava de me dar conselhos mas o aviãozinho (o boneco que a minha cara-metade escolheu para sinalizar o carro) estava sempre fora da estrada mas também verdade seja dita, ia mostrando a M4.

Já na M4 e em direcção ao País de Gales comecei a relaxar embora eu não tivesse uma ideia certa qual seria a saída. Conduzi assim muitas milhas até que a garganta já ardia de tanta secura, o estômago vazio e a bexiga cheia fez sair outra vez da M4 para ir para uma área de serviço, não são como as nossas em que entramos nelas e saímos muito facilmente, aqui essas coisas são um bocado mais difíceis.
Parei na estação de serviço, comprei uma água e dois pacotes de Oreos, souberam-me bem. Bebi um expresso duplo e fui para o carro, chovia.

E agora vão perceber porque não gosto de carros modernos, com a pressa e a chuva atrapalhei-me um bocado e já instalado meti a chave na ignição e népias, carro bloqueado. Entrei, saí, abri e fechei as portas com a chave e tentei as variações todas e aquela merda não desbloqueava.

Já me via a passar a noite na área de serviço com a porcaria do carro bloqueado até que decidi fazer outra tentativa. O carro abriu e no tablier pude ler uma mensagem: “Tentativa recente de intrusão”. Exclamei para ele furioso: Era eu seu burro!!!! Se eu posso ouvir a vozinha doce do GPS posso mandar passear o carro.

Saí da área de serviço e perdi a entrada na M4. Andei ás voltas um bocadinho, voltei á área de serviço e lá consegui dar com a entrada.

Fiz mais uma data de milhas, debaixo de chuva, trânsito e a escurecer mas começava a ver já sinalização em gaélico o que me dizia que já estava no País de Gales mas também não me ajudava nada pois é uma língua lixada.

Por volta de Cardiff a minha vozinha doce começou a fazer-se ouvir outra vez e parecia já recuperada da sua insanidade temporária quando me pus a pensar, eu gosto muito de pensar, o que teria acontecido. Foi simples, quando carreguei os mapas e o percurso o sistema apenas carregou o mapa da área de Heathrow e o de Pembroke, não pôs nada na zona intermédia o que fez a vozinha doce ficar maluca e baralhada.

E lá fui eu todo contente, já escuro até Pembroke Dock. Antes de passar o portão telefonei para o navio para saber onde eles estavam. Não estavam… estavam em Fishguard a abastecer e por isso por instruções do comandante tinha de ir passar a noite ao hotel, o King’s Arms Hotel em Pembroke. Fiquei a saber que Pembroke Dock é uma coisa e Pembroke é outra. Tive de parar para perguntar onde ficava o raio do hotel mas como sou muito moderno pedia apenas o nome da rua, introduzi no GPS e a vozinha doce levou-me até ao hotel sem falhar.

Instalei-me, jantei uma carne de porco acompanhado de uma “ale”, cerveja de cá e fui-me deitar, estava rebentado. Adormeci a sonhar com a vozinha doce….

No dia seguinte fui para o navio já sem percalço nenhum….

Publicado no SOL na sexta-feira, 15 de Abril de 2011

Crónicas Inglesas I

Pois... estou a trabalhar para os ingleses. Depois da venda do Galp Marine á J.H. Whitaker (Tankers) eu acompanhei o navio, provavelmente devido ao meu grande conhecimento das manhas e truques desta nave de olhos em bico (construído na China).
As minhas impressões iniciais foram boas pois as decisões durante a reparação em Lisboa eram tomadas rapidamente e sem aquele acanhamento tipicamente tuga mas verdade seja dita, não esperava milagres.

Logo á saída houve chatice, alguém se esqueceu de dar luz verde ao navio e o tal de sistema não dava autorização. O rapazinho que devia ter dado a tal luz verde já estava de fim de semana mas o português tem isso de bom, desenrasca sempre quando quer e precisa. Assim as autoridades lá nos deram o aval de saída.
E saímos para viagem já como Whithaven.
Foi uma viagem calminha, navio ainda cheio de tugas e alguns bifes (comandante, imediato e um chefe de máquinas a viajar como 2º para aprender como se mexe com isto).
E houve um tuga que desapareceu durante a viagem, fomos encontra-lo já á chegada, com uma cara amarela de tanto enjoar. Era a sua primeira travessia a sério.

E chegámos a Milford Haven onde o navio iria ficar mais uns dias para terminar umas reparações e inspecções.

Foi engraçado, as primeiras actuações no nosso equipamento foi com um certo ar de desdém de quem quer ensinar como se trabalha.... ao fim de duas tentativas ficou pior do que a reparação feita em Lisboa. E aconteceu com outra empresa e outro caso, duas tentativas e as coisas ficaram na mesma. E aqui o "Je" continuava a manter a sua "história" até eles aprenderem que burros estavam a ser eles. Engraçado, as relações melhoraram (com os reparadores).

Neste momento o navio já está todo (quase todo) "inglezado" e eu a tentar adaptar-me ás novas regras.

As piores regras que tenho de me adaptar são as relativas aos horários. Nós jantávamos ás 19:00, aqui os pequenos passaram para as 18:00. Pequeno almoço entre as 07:00 e as 07:30, substancial se necessário. Ao meio-dia sandocha que não há almoço para ninguém e depois o jantar ás 18:00. Felizmente que o cozinheiro tuga (aqui somos todos tugas) ainda cá estava e ía fazendo alguma coisa quente para o almoço.
O pior aconteceu quando chegaram os polacos que substituíram a marinhagem tuga. O cozinheiro e um marinheiro voltaram para a Tugalândia ficando cá outro pois sabia falar inglês. O que regressou não só não sabia falar inglês como nunca tinha viajado de avião, andava um bocado aterrorizado com a ideia de se perder no aeroporto sem saber a língua.
Como estava a dizer, chegaram os polacos e a hora do jantar passou para as... 17:00. Porra, eu que me deito sempre depois da meia-noite só posso dizer que ás 22:00 pareço um cão esfaimado ás voltas na cozinha á procura de um osso para roer.

Trabalho? Continua na mesma, já tive que desencravar os esgotos outra vez, esta merda não me deixa sossegado. De resto ando a acudir ás merdoncices arranjadas nas "reparações" desnecessárias feitas em Lisboa, mexeu-se em muita coisa e poucas melhoraram. Devagarinho vou lá.

Os meus colegas da Albion (acho que não estou a dizer asneira nenhuma), bem eu com os meus 56 anos sou o benjamim do grupo (os 2 outros tugas que cá continuam não contam pois em Março vão de vez), pois os meus digníssimos colegas têm de 62 para cima, aliás está tudo a chegar á reforma. Já ouvi alguém comentar que o Bob (64 anos), o 2º de Máquinas que agora está comigo, está já a pensar em não voltar.
Como são todos rapazinhos novos e de ideias frescas, com a agravante de terem navegado no mesmo navio uma década, andam agora todos chateados, a dizer que o navio não presta, pois por pura e simplesmente quererem operar este navio como se fosse o outro.
Vai haver problemas, aliás eles já começaram pois fazem ouvidos de mercador e não atendem aos conselhos, depois os equipamentos avariam.

As coisas são geridas de modo a que o navio á noite atraque no cais de Pembroke Port e aí passar a noite, o 1º comandante ia dormir a casa todos os dias. Nós tínhamos em Lisboa uma vida muito mais activa do que aqui (pelo menos até agora).


Quanto á terra não sei quase nada. Fiz uma saída em Milford Haven, fui ao Tesco (o Continente cá do sítio) e a convite do comandante fui a um pub junto ao navio beber uma "pint". Bebi uma cervejola escura, amarga mas que me soube muito bem, gostei. Só que tive que voltar para o navio pois o raio da bexiga não parava de ficar cheia só com o raio da "pint" de cerveja. Tirei alguma fotos em Milford Haven, uma delas que me enche de orgulho.
Em Pembroke fui 2 vezes a terra, Argos e Tesco. Argos é uma loja que vende essencialmente por catálogo mas que tem exposição e venda em alguns lugares, tem uma mesmo em Pembroke onde comprei um iPod. Também tirei mais umas fotos no caminho de ida e volta ao Tesco/Argos.
E não consigo descontrair lá fora, fico com a cabeça no navio. Embora agora tenha o 2º a bordo a tomar conta, foram muitos anos sozinho no navio, não consigo relaxar.


Não relaxo nem para ir atrás de nenhuma inglesa gorda que por aqui existem ás centenas.
Uma coisa as raparigas cá do burgo têm bastante desenvolvido, os peitorais. Normalmente estão dotadas de um peito generoso o que faz mal á vista e que já me tem causado quedas de tensão gravíssimas. Mas segundo me parece a xenofobia reina por estes lados. Verdade seja dita ainda não saí para lado nenhum para saber se convivem ou não, e também não tenho grande vontade de entrar num pub e estar a beber sozinho e também não sou do género de andar a meter conversa. Fico-me pelo navio, leio, fotografia e voltar a escrever umas crónicas.... ahhh e ouvir música que foi para isso que comprei o meu iPod.

Estas são as minhas impressões iniciais. Esta a minha visão da minha experiência nas terras de Sua Majestade.

Publicado no SOL no sábado, 26 de Fevereiro de 2011

A última viagem...

O Galp Marine foi vendido. Vai-se embora para Inglaterra operar em Pembroke sob os novos donos, a John H. Whitaker Tanker Company. vais fazer o que sempre fez bem aqui em Portugal, operações de bancas.
Por ironia do destino o Galp Marine abasteceu o seu último navio, já com extensão do período a pedido da GALP, devido a avaria / imobilização das novas unidades que o substituíram, o BAIA TRES e um novo tanker de nome BROVIC MARIN.


Na foto o ainda Galp Marine afasta-se do navio CALA PEDRA depois de cumprido o seu último trabalho. Sai com glória pois acabou por fazer onde os outros, as novas escolhas da GALP, falharam.


Nesta foto está a última tripulação portuguesa de navios tanques, da esquerda para a direita: imediato Ricardo Conceição, cozinheiro e marinheiro de 1ª Barbosa onde se distingue o seu peculiar capacete (para a fotografia), marinheiro de 1ª / bombeiro Sérgio e o marinheiro de 1ª Luis Gomes. Falta o comandante Alexandre Tenreiro que estava na ponte e o chefe de máquinas que estava atrás da máquina fotográfica (Eu).
Assim Portugal desfaz-se de mais um valor, cada vez existem menos pessoas certificadas para tankers, e mesmo havendo voluntários não existem navios para a certificação. Têm de a tirar lá fora e uma vez no exterior já não voltam.
Não me apetece escrever mais, não me apetece estender-me mais neste assunto, é por demais triste. Eu próprio vou para o mercado internacional pois as empresas portuguesas existentes ou já estão "tapadas" ou o nível salarial é porventura demasiado baixo.
O navio está, na altura em que o post está a ser escrito, em Sines, em operações de lavagem de tanques para de seguida ir para a doca e ser entregue aos novos donos que o vão caracterizar com as cores e nome da Whitaker, dando assim fim ao Galp Marine.
PORTUGAL é um PAÍS que se deve direccionar para o MAR, onde já ouvi isto????

Publicado no SOL na terça-feira, 11 de Janeiro de 2011

O Fim...

Pois, como tudo o que é bom acaba, especialmente neste país. O Galp Marine vai-se embora, foi vendido e já no início do ano que vem vai abandonar-nos.
Negócios são assim, não se compadecem nem têm sentimentos, nós os homens sim, sentimos. O tráfego feito por este navio há já 5 anos vai passar a ser feito pelo Bahia III e segundo se consta pela anedota de navio apelidado de SACOR II. Também segundo se sabe essa anedota ainda não está totalmente escrita e nem se sabe se algum dia sairá do prelo e por isso os fretadores irão ter que arranjar um substituto para o Galp Marine. São negócios, alguns bem estranhos, mas o destino não deixa de estar traçado.
Tenho pena que num país onde os nossos doutos políticos acabaram de fazer discursos referindo-se ao futuro de Portugal, futuro esse que seria O MAR o país acaba de perder mais duas tripulações, navios já poucos existem agora são as tripulações a desaparecer pois o conjunto de profissionais que aqui está terão procurar ocupação ou lá fora ou em lugares de terra. Se calhar o futuro do país será o Mar mas a ver navios...
A foto publicada foi feita na última chegada a Lisboa vindo de Sines com o meu telemóvel. Agora é fazer os últimos abastecimentos, embalar a trouxa e entregar o navio aos novos donos.

Publicado no SOL na segunda-feira, 13 de Dezembro de 2010

Por vezes...

Temos de deitar a mão á trampa para resolver uma questão, esta foi bicuda...


 Já não tenho idade para isto... só mesmo a responsabilidade de resolver as questões me fazem fazer isto.
Já passou... não morri nem ganhei medalhas!!!!

Publicado no SOL quarta-feira, 13 de Outubro de 2010

Cavaco dá-me razão...

Citando o Jornal Económico Cavaco Silva diz:
 Mas, Cavaco Silva reforçou que não pode existir um ‘cluster' do mar em Portugal se, no seu núcleo, "não existir um forte sector portuário e de transportes marítimos", realçando que "por incrível que pareça, Portugal chegou a um ponto em que, descontando o tráfego com as ilhas, deixou de possuir uma frota de marinha mercante".
Quando será que começam a correr com os parasitas e põem pessoas que realmente sabem do assunto a tratar dos nossos assuntos marítimos? Temos de desenvolver a nossa marinha de comércio de uma maneira eficaz e saudável, o país agradecerá...
Será que é agora que iremos dar mais uns passitos na reestruturação e virá algum pateta alegre lixar isto tudo só para dizer que é diferente.

Publicado no SOL na terça-feira, 21 de Setembro de 2010

Breve passagem

No dia 10 estiveram em Portugal duas lanchas rápida da marinha argelina. Estavam de passagem por Portugal, uma já era uma unidade veterana na Argélia mas a outra era uma nova aquisição, tinha acabado de sair dos estaleiros em França.
Podem ver pelas fotos que a pintada de cinzento, a camuflagem normal dos vasos de guerra, é a unidade mais antiga e a que está de branco é a unidade nova, nem tem a peça á proa como a outra.





E as lanchas pararam em Lisboa para se abastecerem que era o que estavam a fazer quando as fotografei.
Mais tarde contou-nos um piloto da barra que elas saíram e já lá fora pediram ajuda pois uma delas tinha ficado sem os dois motores. O piloto comentava que o comandante argelino dizia:
- Oh Piloto, se fosse um motor eu ainda aceitava ,,, mas logo os dois!!!!
Mais tarde soube-se que tinha sido o abastecimento de combustível o causador da avaria, combustível defeituoso (segundo a minha experiência combustível contaminado com água e/ou lamas de fim de tanque).
Esta visita passou um bocado despercebida pois estava cá o navio americano USS Mount Witney e a esquadra japonesa na sua visita que para mim também foi pouco publicitada.

Publicado no SOL na quinta-feira, 2 de Setembro de 2010

A vida por uma amêijoa...

Noutro dia estava atracado na ETC, junto ao Porto Brandão e encontrava-me na ponte do navio, ou estávamos a chegar ou a partir. O que me chamou a atenção foi uma pequena embarcação que a menos de uma centena de metros se preparava para largar um mergulhador. Foi de relance mas ainda deu para ver que ás costas levava pelo menos quatro botijas de ar. Chamei a tenção aos meus camaradas para o facto pois um mergulho com quatro botijas é de alto risco.
Passados uns dias li no jornal a triste notícia que um jovem pescador da Trafaria tinha desaparecido em mergulho ilegal para a apanha da amêijoa ( http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=182205 ) e lembrei-me logo do que tinha visto.
Comentando o facto com o pessoal da ETC, um deles contou-nos que no dia anterior ao desaparecimento tinha dado assistência ao mergulhador que tinha saído da água em bastante mau estado devido ao tempo de mergulho, na altura andava uma patrulha da polícia marítima nas redondezas. O técnico da ETC que nos contou a história até nos disse que tinha perguntado ao mergulhador se queria que ele chamasse a ambulância o que foi rejeitado. No dia seguinte desapareceu.
Passados uns dias tirei esta foto:


Não faço comentários.... 

Publicado no SOL na quarta-feira, 1 de Setembro de 2010

Deve ser de recreio...

Noutro dia li uma notícia de uma criança que caiu á água, estava numa embarcação e caiu.
Morreu  porque o barco passou-lhe por cima...


Esta embarcação ia a toda a velocidade com estas duas crianças na proa... acho que não preciso de dizer mais nada.

Publicado no SOL no domingo, 29 de Agosto de 2010

e aconteceu....!!!!

Pois aconteceu...!
O navio que substituiu o Galp Marine avariou e... o Galp Marine teve que encostar a ele, receber a carga e ir abastecer o cliente.
Na imagem momento em que estávamos encostados ao Baia Tres para receber a carga. 


Pessoalmente não tenho (e o resto da tripulação também não) nada contra os espanhóis do Baía Três, esta operação até deu para tratarmos com eles e as relações foram bastante cordiais e amigáveis, mas o navio não vale um caracol para aquilo que foi fretado. A própria tripulação não está também muito satisfeita. O tempo dirá se foi uma boa opção.
Entretanto nós temos tido uma vida um bocado de cão, um ritmo alucinante, operações atrás de operações. Número de operações feitas e marcadas por pessoal que está num escritório e pensa que isto é só carregar num botão e que se esquece que existem normas de descanso do pessoal. Andamos ás vezes a fazer o trabalho que fazíamos antes e o novo trabalho tudo porque alguém se enganou.
Só espero que a Sacor Marítima receba o cancro chamado de Sacor II rapidamente para nós podermos ir á nossa vida e então a Galp que fique a operar com o novo navio (Sacor II) e o Baía Três. Prefiro ir para outro sítio, até para a Somália se necessário do que estar a aturar estas tretas.
Perdi a paciência. 

Publicado no SOL na sexta-feira, 27 de Agosto de 2010

Cerimónias....

A marinha japonesa (JSMDF) veio visitar-nos e segundo sei é a sua primeira visita a Portugal. Nós, no nosso navio Galp Marine, tivemos a incumbência de os abastecer de combustível.
Mal atracaram em St. Apolónia iniciámos também as nossas operações começando com o navio almirante JS KASHIMA e em seguida os destroyers JS SAWAYUKI e JS YAMAGIRI.
Entretanto nos navios iniciavam-se os preparativos para as visitas protocolares, cerimónias e visitas de público anónimo.





Os navios engalanavam-se e no último abastecimento, á noite, via-se o navio almirante todo enfeitado, iluminado e a receber visitas de alto nível.
Jantávamos e as conversa caiu sobre os navios japoneses e as cerimónias quando um jovem marinheiro exclamou:
- Grande casamento que está a acontecer no navio!
- Casamento?, perguntámos nós todos.
- Sim! Só se vê vestidos compridos e com brilhantes e os homens todos de fatos!!!
Foi uma gargalhada geral, ainda hoje nos rimos com o "casamento" a bordo do navio almirante japonês.

Publicado no SOL no sábado, 14 de Agosto de 2010

Visita da Marinha Imperial Japonesa

Navio KASHIMA
Hoje começámos a abastecer os navios da marinha japonesa que estão de visita a Portugal.
Como ninguém me disse nada nem pediu autorização presumo que seja a 1ª visita ao nosso país.


Uma das coisas que me surpreendeu nestes navios foi a existência de contingente feminino, realmente não estava á espera.


 Entre oficiais ....


e praças....
Esta maruja estava já no meu navio envolvida no processo do abastecimento de bancas e eu aproveitei para a fotografar... 

Publicado no SOL na quarta-feira, 11 de Agosto de 2010

A nossa marinha está a morrer...

Estava a abastecer um navio para os lados de Stª. Apolónia quando esta draga apareceu ao nosso lado. Draga que vai fazendo a manutenção dos nossos portos. No ano passado era outra que andava de um lado para o outro, uma draga holandesa, esta é inglesa.


Achei piada a um pormenor, é Verão e está calor logo a tripulação adapta-se para gozar o tempo e veranear...


Instalou uma piscina de criança no convés e assim passam uns momento a trabalhar para o "bronze".
O que é triste nisto tudo é que nós,  portugueses, já nem uma porcaria de uma draga temos... deve ser mais fácil alugar (fretar na nossa gíria) uma ao estrangeiro do que possuir uma, mais barato não sai de certeza a não ser que as comissões falem mais alto.
Não me venham com coisas, se existe trabalho para um tempo dilatado e constante é mais barato ter e gerir do que alugar pois dessa forma iremos pagar o custo do navio e o lucro do proprietário. A nossa marinha morre porque os nossos gestores acham que alugar é mais barato... e assim matam a nossa marinha. Matam não, mataram.... 

Publicado no SOL na sexta-feira, 6 de Agosto de 2010

A chegada do "amigo"

Hoje estava na Liscont a abastecer um navio quando soube da chegada do navio USS Mount Whitney da marinha dos Estados Unidos, sempre é um bom motivo para se tirar umas fotos.
A luz estava crua e ele preparava-se para ficar em contra luz.
O navio vinha já com a assistência de dois reboques, seguia uma lancha da Marinha de Guerra Portuguesa que lhe indicava o caminho (o navio estava com piloto a bordo) e vinha devagar no meio de algumas embarcações de recreio.


Quando passou por nós tentei fotografar detalhes e encontrei, mais uma vez, uma atitude de muita má criação dos nossos "amigos", tinham as armas, canhões e metralhadoras equipadas com pessoal e fato de combate e com as armas viradas para terra. Então eu recebo em minha casa estes caramelos e os gajos apontam-me armas??? Esta atitude de arrogância, que as nossas autoridades e governantes aceitam, chateiam-me á brava.


 Estão com medo de um ataque terrorista? Acho que a probabilidade seria que viesse do mar e não do lado do cais. Se não confiam na segurança de Portugal porque vêm cá visitar?
Podiam ao menos ser discretos e não são... Será que é para "marcar" o território? Mostrar quem manda?
Os nossos governantes que respondam a isto se souberem.

Publicado no SOL na quarta-feira, 4 de Agosto de 2010

Bahia Tres

Bahia Tres é o nome do navio que substitui o Galp Marine nas suas andanças pela Galp.
Eis uma imagem do navio no momento em que recebia as gruas que equiparam o Galp Marine durante 3 anos.


e, do outro lado do porto de Sines, no já famoso TMS, o Galp Marine, envergonhado da sua nudez esconde-se atrás do cais....


Boa sorte aos espanhóis do Bahia Tres, só lhes desejo muita paciência para aturar os terríveis planeamentos...

Publicado no SOL no domingo, 4 de Julho de 2010

A Fome

Quem não gosta de ver programas sobre a natureza? Acho que não existe nenhum coração insensível ás imagens que a televisão nos dá, especialmente aquelas sobre a vida marinha. Aquele azul cristalino e toda a imensa diversidade de espécies e vida.

Era hora do almoço e víamos um programa feito na praia do Tofo em Moçambique sobre as mantas, programa esse que mostrava o trabalho de uma rapariga, jeitosa, diga-se de passagem, o que tornava o o programa ainda mais interessante para nós marinheiros.

E víamos aqueles enormes animais a evolucionar no meio do azul á medida que a moçoila ia narrando os resultados do seu estudo e mostrava quão maravilhosos eram aqueles seres, o risco que corriam e todas as vicissitudes de um ser vivo no meio desta humanidade esfaimada.

Íamos comentando já totalmente rendidos á beleza das imagens quando se ouviu uma voz:
- Mas isso presta para comer??????

Publicado no SOL no domingo, 4 de Julho de 2010

O Nevoeiro.

Tínhamos hora marcada para entrar, tínhamos muitos trabalhos no convés e na máquina e os fornecedores estavam á espera há já uns tempos por esta oportunidade, inicialmente marcada para dia 30 mas adiada por motivos de ordem comercial para dia 1. O que me fez abortar um trabalho porque uma das equipas já tinha marcado outra tarefa para esse dia. Engraçado como determinadas pessoas ficam ofendidas quando um fornecedor não acompanha a anormalidade de falta de planeamento que tanto nos tem caracterizado. Sim, eu posso contar. Descarreguei no Porto Brandão e recebemos ordem para ir carregar a Sines e quando íamos a toda a força a passar o Espichel recebemos ordem para voltar a Porto Brandão carregar o que tínhamos descarregado e rumar a toda a força para Setúbal...
Como uma das vezes que nos deram um dia no TMS pois não havia carga e eu aproveitei para fazer a manutenção ás máquinas principais, apenas rotina, substituição do óleo do cárter, operação que tem de ser feita de 1000 em 1000 horas. Pois mal tirei o óleo da máquina veio a ordem de sair para carregar. Não saí, primeiro acabei o trabalho. O que me enfureceu dessa vez é que tinha estado dois dias antes um caramelo do planeamento a jantar no navio, queria conhece-lo e ver as máquinas e eu tinha-lhe explicado que os navios tinham máquinas e que como os carros também tinham que fazer as chamadas revisões e que, quando nos mandava para o TMS parar eu aproveitava para isso. Foi chover no molhado, foi logo a seguir.
Agora já sou macaco velho, quando planeio uma operação só contacto e combino com os fornecedores mesmo á ultima e..... normalmente falha.
Pois tínhamos marcado hora para entrar mas não podemos porque o porto estava fechado devido ao nevoeiro, azares da natureza. Éramos nós ao largo e o pessoal á espera do navio no cais. E como nós havia mais navios á espera. O porto estava fechado.
Até que caiu o nevoeiro e aí entro em acção a estupidez humana, sim estupidez e falta de flexibilidade, eu chamo as coisas pelos nomes. O nevoeiro caiu e marcaram a s entradas só para duas horas depois pois o sistema só aceita entradas com 2 horas de antecedência. E não há volta a dar... é culpa do “SISTEMA”.
Então ficou-se uma manhã maravilhosa de sol á espera que o tal sistema desse luz verde. Até que se começou a dar entradas.
E os navios iam entrando, um a um porque como é um porto seguro de águas profundas só mete um navio de cada vez. Não estejam com coisas, isto é muito sério, somos muito sérios, rimo-nos pouco e somos muito profissionais.... não temos é a culpa da porcaria do SISTEMA só dar luz verde duas horas depois e só sabermos meter um navio de cada vez...
A mim chateia-me solenemente estas porcarias, antes de fazer este embarque pediram-me para dar um salto a um navio que estava em Anvers, Bélgica e traze-lo para a Figueira da Foz. Pois aquele navio saiu do porto de Anvers em comboio, cruzou-se com muitos outros navios, petroleiros, químicos, LNG etc etc. Encostou-se a eles nas eclusas (eclusa é o sistema de comportas que no caso de Anvers serve para manter o porto com profundidade navegável) e mais não fez porque não era necessário. Agora se os belgas parassem o porto e todos os movimentos por causa de um navio LNG (transporte de gas) então a indústria deles já tinha ido á falência.
Pois, esqueci-me de uma coisa, eu sou um gajo da máquina e não percebo patavina de portos e afins.
E como resultado dessas operações delicadíssimas de mete um de cada vez conseguimos atracar ás 16:30, tive 3 equipas a serem pagas um dia inteiro para estarem na esplanada do porto profundo de águas seguras á espera que o navio atracasse.
A chatice é que este porto profundo de águas profundas pertence a um país seguro de águas profundíssimas.... bem basta ver as poucas vergonhas que aqui se passam, estas nossas águas profundas e negras que gerem a nossa vida e hipotecam a vida dos nossos filhos e toda uma geração vindoura.
Se com a queda do nevoeiro viesse um vendaval que varresse este país, isso sim seria uma bênção... se calhar o vento teria que esperar que o SISTEMA desse luz verde...

PS.
Podem chamar-me nomes á vontade.... porque a verdade essa é nua e crua.

Publicado no SOL na sexta-feira, 2 de Julho de 2010

Foi o fim....

Pois, tudo o que começa tem um fim, mais ou menos breve mas tudo acaba.

Assim acaba uma das facetas do navio Galp Marine, a sua faceta de navio de controle á poluição. O contracto acabou e o navio foi despido dos seus ornamentos, 2 gruas azuis da Lamor, que o distinguiam de como navio de controlo á poluição. Fomos substituídos por uma unidade espanhola.
Ontem atracámos no cais dos rebocadores em Sines e foram desmontados e retirados todos os equipamentos. Não falo pelos outros, falo apenas por mim, tive pena, tenho pena pois apesar do trabalho que os exercício nos davam eu aprendi muita coisa, conheci pessoas que doutro modo não teria conhecido e faço aqui uma menção especial á Mónica, pessoa com quem gostei de trabalhar, pela sua postura e profissionalismo.

 O Galp Marine já despido das suas gruas azuis que o distinguia...

Hoje estamos a carregar, a fazer os últimos carregamentos para a Galp....
Outros mares virão, ainda muita água irá correr por baixo da quilha do Galp Marine. 

Publicado no SOL na sexta-feira, 2 de Julho de 2010

Curtas 3

Tudo uma questão de tráfego...
Estávamos atracados no Posto 6 no terminal de Sines e tínhamos acabado de carregar 2300 tons de fuel e tínhamos como 1º navio a abastecer um carvoeiro atracado no TMS em Sines também. Viagem curta, sair do terminal, dar a volta e entrar no TMS, 1,6 milhas náuticas de navegação e considerado pelas autoridades como Tráfego Local.
Só que era de noite, ao lado estava um navio imenso a descarregar gás, as pedras estavam a cerca de 100 metros da nossa popa e o navio carregado de fuel. Não é uma tarefa fácil, já a fizemos muitas vezes.
Mas como vamos em tráfego local o porto não nos obriga a meter piloto nem reboque, é o comandante que faz a manobra, sozinho na ponte, manobrando a máquina, manobrando o leme, dando ordens e vindo á asa da ponte ver a posição e distâncias.
Depois da descarga saímos para Setúbal, o navio já muito mais leve, o navio de gás já se tinha ido embora e a manobra era simples, largar cabos, arrancar com máquina, um toque de propulsor de proa e já está. Só que como fomos para Setúbal o tráfego já era considerado de Costeiro e aí sim, as regras impunham a utilização de um reboque e de piloto da barra....
- Eh pá! É a segurança pá!!!! Sabes como é....
O procedimento pelo procedimento, a segurança que se lixe, andamos a brincar ás pessoas grandes.

Publicado no SOL na quinta-feira, 17 de Junho de 2010

Curtas 2, o cartão...

Noutro dia embarquei em Sines, no terminal petrolífero. E passei pelo sistema de segurança do porto de Sines, experiência única.
Primeiro tinha ido ao SEF mostrar a minha cara feia á simpática funcionária (é mesmo simpática, não estou a ser irónico) do serviço de estrangeiros e fronteiras que me disse que ia pôr a minha entrada no sistema, eu estranhei, não era costume.
E cheguei ao portão onde o agente me esperava para me levar para o navio. Não posso entrar de carro, tenho de entrar a pé e só lá dentro posso entrar no carro, estou a falar a sério. E no guichet onde o segurança me perguntou o nome eu respondi José Luís Duarte Silva, não encontrou mas depois de eu ter dito que o SEF já tinha posto a informação lá viu um José Silva e então pegou num CARTÃO que acho que o passou por uma máquina, não garanto essa informação ou se no sistema ligou o cartão ao meu nome. Depois saiu da casota e foi até ás cancelas e passou o cartão no leitor para dar saída do cartão e só assim mo passou para as mãos. Eu muito solenemente peguei no cartão e atravessei a cancela e dirigi-me para o carro onde entrei e fui levado ao navio. Chegado ao navio entreguei o cartão ao agente que o levou para a portaria outra vez. Fiquei banzado, como se pode ser tão burro e desenhar um sistema tão idiota? Ahhh se eu perder um cartão terei que indemnizar o porto de Sines em 35€, até parece que o negócio deles é vender cartões e não carregar e/ou descarregar navios.

Publicado no SOL no domingo, 25 de Abril de 2010

Curtas 1

Tenho falado das lanchas dos pilotos de Lisboa, as tais lanchas novas a jacto de água e que eu nunca gostei nem nunca concordei. É certo que o que eu penso, concorde ou não não interessa a ninguém nem pesa nas decisões.
Pois, mas aconteceu... uma já está toda partida. Por ser de jacto de água não tem leme, ela é direccionada  através da vectorização do jacto. Numa aproximação a um navio, á velocidade de 16 nós, o mestre cortou o jacto e... ficou sem governo. Espetou-se a 16 nós contra o navio e partiu a lancha toda. Felizmente que ninguém se magoou
Ainda não encontrei um piloto da barra que dissesse bem dessas lanchas. Caras, mal construídas e não servem...

Publicado no SOL no domingo, 25 de Abril de 2010