sexta-feira, 30 de maio de 2014

Crónica de uma docagem (parte III)

Doca de Alcabideche 2014-05-29 03:30

Confirma-se os tempos de trabalho do gerador de portos, não mais do que três horas, depois disso vêm sempre uma série de alarmes no propulsor de BB.


Com o reinício da navegação toda a linha afectada sobreaquece e entra em alarme. Mesmo com a inclusão de novos supressores de ruído nas linhas de instrumentação os sinais continuam a aparecer. Aparentemente o novo trabalhar do propulsor vais provocar algumas erosões que se auto reajustarão. Até lá todo o processo será moroso e de grande instabilidade tanto nos alarmes como no funcionamento. Vai ser um processo semelhante a uma rodagem com a desvantagem de um processo de transmissão de sinal disfuncional e de recuperação lenta. As peças não podem ser substituídas pois o seu fabrico foi há uns tempos descontinuado mas pode-se alterar a programação dos controladores de modo a aliviar a situação.


Teme-se que nos próximos tempos o relatório sejam todos semelhantes e por isso deixarão de ser diários. Não há necessidade de intoxicar os registos com informação redundante.


Em caso de necessidade poderei sempre responder a questões sobre a situação.


Bordo, 29 de Maio de 2014, ás 04:05.




Doca de Alcabideche 2014-05-28 05:00


Decididamente o gerador de portos está programado para só funcionar 4 horas e depois disso entra em auto shutoff ficano o gerador prinipal ao quadro.


As provas de mar em águas restritas foram bastante satisfatórias quase sem alarmes no propulsor de BB. Aliás tem-se feito um esforço para equalizar as potências dos propulsores de modo a não afectar a estrutura.


Neste momento ligeiro mau funcionamento do propulsor de BB que obriga a que se esteja presente na casa da máquina para manter os sistemas sob vigília. Este pequeno mau funcionamento e respectivo alarme deriva do atraso no fornecimento de aditictivos e atenuadores de ruído nos sinais da instrumentação, ruptura de stock no fornecedor.


A reparação efectuada na canalização principal das cablagens da instrumentação está em boas condições tendo já sido retiradas as abraçadeiras que mantinham a soldadura em posição, estando neste momento em observação podendo dentro de 24 horas ser decapada e pintada.


A sociedade classificadora recomenda mobilidade reduzida e alguma navegação costeira não podendo ultrapassar as 6 milhas de costa. Interdição completa de movimentação e transporte de carga mantém-se.


Uma vez que a operacionalidade comercial se encontra inibida aproveitam-se os sistemas para reorganização e gestão de fluxos de informação, actividade esta constantemente vigiada pelas autoridade portuárias e guarda fiscal para detecção de transporte de carga ilegal.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Crónica de uma docagem (parte II)


Doca de Alcabideche 2014-05-27  11:00

Gerador de porto começou a trabalhar sem problemas e naturalmente mudado para o gerador principal de forma natural.
Começou-se a navegação em águas restritas mas já provocou queixas das autoridades portuárias por estar a provocar forte ondulação nas margens.
Ainda existem alguns alarmes no propulsor de BB mas segundo técnico do fabricante são apenas problemas de sinais na instrumentação e por isso passar a fazer a monitorização através da instrumentação local.
Alteração nos timings e tipo de operações de manutenção.
Restante equipamento em funcionamento normal.



Doca de Alcabideche 2014-05-27  04:00

Após revisão pela sociedade classificadora feita no dia anterior o inspector retirou as protecções á soldadura para inspecção á sua qualidade e estrutura. Passou no teste de qualidade.
Foi emitido o certificado de navegação em águas restrictas o que deixou o armador bastante satisfeito.
Reavaliadada toda a dosagem dos tratamentos químicos aos combustíveis, águas de caldeira e dos propulsores.
Reforçados os settings para melhor funcionamento do gerador de portos com resultados já evidentes.
Aconselhada a locomoção em águas restrictas com ajuda de rebocador em caso de necessidade especialmente nas largadas e / ou atracações. Quando atracado já pode levar o trim até aos 90º sem dano para a fractura reparada.
Aconselhado o reforço de potência no propulsor esquerdo a fim de não causar danos estruturais ao navio.
Embora com certificado de navegabilidade em águas restrictas mantém-se a proibição de navegabilidade com qualquer tipo de carga. Não aconselhado o abastecimento de bancas em grande quantidade para não aumentar muito o deslocamento.
Diminuição da utilização de supressores de ruído nas electrónicas pois causavam o aparecimento de ecos falsos no radar e baralhavam as cartas do ECDIS.
O comandante fez curso de "refresh" na operação e manutenção do navio. O chefe de máquinas obrigado a cumprir os planos da superintendência e obrigado a utilizar melhor os equipamentos.
Aprovadas as operações de lightering desde que não cause esforço estrutural.
Recomeça-se a desenhar no futuro capacidade de navegabilidade e operacionalidade.



Doca de Alcabideche 2014-05-26  06:30

Os tempos de trabalho do gerador de portos continuam muito curtos começando a causar stress nos geradores principais.
Continuam os problemas no propulsor de BB notando-se esforço e sobreaquecimento dos mesmo. Os níveis dos sinais de feedback na instrumentação do propulsor de BB estão muito altos chegando a críticos obrigando a utilização de supressores de sinal cada vez menos intervalados.
Devido ás várias intervenções nos diversos sistemas começam a aparecer corrosões na principal tomada de combustível começando as operações de bancas a ser desconfortáveis.
Apesar das dificuldades do turno da noite o estado geral do navio durante o dia é a de uma embarcação já com um certo uso mas pintado de de fresco e ainda poderia fazer uns cruzeiros.
Hoje ao fim do dia terei inspecção da sociedade classificadora tendo grande expectativa na renovação de alguns certificados.



Doca de Alcabideche 2014-05-26  04:00

Paragem do gerador de portos muito prematuramente provocando o aparecimento de informações erradas e contraditórias nos monitores da casa da máquina tendo sido muito difícil destrinçar a informação real da totalmente irreal.
Neste momento o chefe de máquinas está sentado na sala de controlo tentando destrinçar a informação e tentar mais tarde o lançamento do gerador de porto.
(as luzes na casa da máquina estão com falhas e a abanar provocando o aparecimento de imagens fantasmas prejudicando o raciocínio e respectivas tomadas de decisão)



Doca de Alcabideche - 2014-05-25  05:00

Finalmente o gerador de portos trabalhou a noite quase toda. Teve que ser substituído pelo sistema geral devido a alarme persistente no propulsor de BB.
Este propulsor tem dado alguns problemas entrando em alarme várias vezes. Não se encontrando anomalia externa presume-se que a instrumentação esteja danificada ou então o controlador esteja com problemas com os parâmetros de programação.
Os restantes sistemas encontram-se em estado razoável embora alguns comecem a dar sinal de desregulação sendo o piloto automático um deles, uma certa dificuldade em manter um rumo constante.
Devido á imobilização forçada o quadro principal da automação entra em aquecimento excessivo e começa com comportamentos erráticos.
Aguarda-se visita da sociedade classificadora no próximo dia 26 esperando-se que sejam autorizadas provas de mar.

sábado, 24 de maio de 2014

Crónica de uma docagem

No post anterior descrevi um acidente que sofri no meu último embarque ficando a descrição limitada até ao momento do desembarque e ida ao hospital.
Os doze dias que sofri até ser operado e respectiva recuperação no hospital são questões médicas que resumo simplesmente dizendo que a operação foi de urgência pois já tinha uma excrescencia calcificada a danificar a medula.
Os textos seguintes são um modo de ver uma recuperação, os primeiros dias não estão descritos por falta de informação fidedigna, leia-se, estava com uma moca de primeira. Foram textos publicados no FB e agora para aqui transcritos.


Doca de Alcabideche - 2014-05-19

Upadate da minha docagem.
Depois de ter sido posto fora da doca seca e depois de ter exagerado numas provas de mar a sociedade classificadora caçou-me o certificado e mandou-me para cais de espera com algumas fracturas numas soldaduras feitas na conduta de passagem dos cabos de instrumentação.
Devido a avaria em vários cabos de sinais o sistema apresenta bastante ruído afectando a máquina propulsora de BB.
O sistema de monitorização do propulsor de BB está bastante instável alarmando muitas vezes, especialmente quando em condução desatendida á noite.
A inclusão de filtros e supressores de ruído na cablagem está a ter um efeito relativo.
Aguarda-se visita das seguradoras e sociedade classificadora para se efectuar avaliação da operacionalidade.



Doca de Alcabideche - update de 2014-05-21

Continua-se em cais de espera.
Prolemas na passagem de energia para o geradorde portos, o sistema cai muitas vezes por instabilidade da automação.
Necessidade urgente de aumentar o tempo de trabalho do gerador de portos para manutenção do gerador principal pois começa a dar sinais de perda de potência.
Reforço na fixação de alguma automação de modo a que o sistema de portos não dispare. Felizmente que as transições entre sistema de porto e sistema principal se faça normalmente sem blackouts.
As reparações estruturais continuam em bom ritmo e aparentemente no bom caminho.
O propulsor de BB continua com comportamento anómalo e com potência reduzida.
Aguarda-se nova avaliação pela sociedade classificadora e especialistas das marcas.



Doca de Alcabideche - 2014-05-22 06:30

Continuo no cais em reparação. As autoridades portuárias decidiram aumentar o nível de fiscalização da qualidade das reparações e as vettings são constantes.
Devido a pequenas alterações climatéricas e por causa das correntes foi reforçada a amarração para garantir uma boa imobilização.
Melhoria nos settings do gerador de porto que já conseguiu funcionar 3,5 horas sem problemas.
Devido a reforço na automação o propulsor esquerdo perdeu um pouco de potência e ficou um bocado desgovernado, considerado problema pontual soluccionado facilmente com pequenos ajuste.
Sociedade classificadora satisfeita com resultados e provavel inspecção na próxima semana.



Doca de Alcabideche 2014-05-23. 05:20

O motor de portos não arrancou. Os técnicos têm tentado tudo até com substuição de fuel mas o gerador de portos recusa-se a arrancar. Problemas na automação que faz disparar os alarmes e não o deixa entrar ao quadro.
Durante a noite sistemas em red light, causa por apurar ma presume-se por bug na automação.



Doca de Alcabideche 2014-05-24. 02:30

Gerador de portos trabalhou duas horas e voltou a parar.
É imperativo que o gerador de portos funcione razoavelmente para a boa finalização das outras reparações.
Nos outros sistemas mantêm-se os mesmos problemas.
Alguma melhoria na generalidade.



Doca de Alcabideche - 2014-05-24 05:00

Durante operação de descarga de sewage grave anomalia nos giroscópicos afectando o heeling fazendo o navio adornar a angulos críticos.
Propulsor de BB continua com falta de potência e com alarmes no vermelho.
Problemas com os radares pois começam a dar muitos ecos falsos especialmente no período nocturno.
Espera-se pela mudança de turno das 08:00 para as operações de rotina.



Doca de Alcabideche - 2014-05-24 11:00

Com o turno da manhã o estado geral da instalação manteve-se estável.
Apenas o propulsor de BB continua a apresentar problemas especialmente no cardan anterior ao hélice em que as chumaceiras estão aquecer acima do admissível estando neste momento em alarme. Continua a dúvida se é a automação desregulada ou se existe mesmo dano no cardan.
A imobilização ao cais tem sido reforçada com mais uns cabos de amarração e a autoridade portuária tem feito inspecções constantes, foram já emitidas alguns autos de mau comportamento.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Acontece ás vezes.

No dia 25 de Abril de 2014, tendo o facto de se ter passado nesta data pura coincidência, desci cedo á casa da máquina para uma rápida intervenção.
No dia anterior tínhamos zarpado de Ponta Delgada rumo a Lisboa ficando a faltar duas viagens para o meu período de férias que se previa iniciar a 28 de Maio, mais uma coincidência de datas. Navegávamos há já umas horas quando ao dar a minha última volta pela instalação por volta das 23:00 noto um ruído estranho na parte de ré / EB do motor principal junto ao volante. Não descansei enquanto não descobri a origem. Apenas umas abraçadeiras que fixavam duas tubagens de drenos soltas e que provocavam o tal ruído, não era grave e poderia esperar pelo dia seguinte. Já não caí no erro de executar tarefas sozinho numa casa da máquina á noite.
No dia seguinte tomei o usual pequeno almoço ligeiro e dirigi-me á casa da máquina para fechar o ponto que tinha em aberto.
Chamei um dos ajudantes e pegando numas abraçadeiras de plástico dirigi-me á parte de ré da máquina. Chegando ao local expliquei ao ajudante o que se passava para ele poder perceber o problema causa e efeito, tinham passado por lá e não tinham reparado em nada e de seguida abaixei-me para fixar aquilo com a tal abraçadeira de plástico. Ia ser uma intervenção de recurso pois aquela área era perigosa, ao lado de um volante a rodar a 500 rpm.
Ao abaixar-me senti uma pontada dolorosa nas costas que me descia pela perna esquerda abaixo. Endireitei-me e tentei novamente mas a dor não o permitiu, dei então a abraçadeira ao ajudante para fixar os tubos com ordens de só voltar a tocar naquilo uma vez parados em porto.
Regressei ao camarote para ir á casa de banho e já não consegui sair. As dores tornaram-se incapacitantes e foi com um esforço muito grande que me arrastei para o sofá onde me deitei em posição fetal sobre a direita. Essa posição era a única que me deixava respirar sem gritar.
Passado uma hora e com um Clonix tomado as dores não diminuiam e tive de tomar a decisão de pedir ajuda o que se tornou extremamente penoso pois obrigou-me a deslizar para o chão e rastejar até ao telefone.
A partir desse momento só tenho ideia de dor, o navio tinha um rolo ligeiro que me incomodava imenso, a vibração no camarote era asfixiante e a minha posição fetal no sofá era a única que me dava um certo alívio.
No dia seguinte o comandante comunicou á companhia o meu estado, eu teria de desembarcar para pelo menos ir ao hospital. Quando as dores eram terríveis e insuportaveis pus a hipótese da evacuação mas só de imaginar o sofrimento de ir em maca até aos topos dos contentores para ser evacuado numa fracção de segundo pus essa hipótese de parte, eu nunca aguentaria estar deitado na maca de barriga para cima, vi isso quando fiz o Rx mais tarde no hospital.
Aguentei então até chegarmos a Lisboa tomando Clonix com Brufens com Ben-U-Rons, tudo o que dizia que era contra as dores só que talvez tenha espaçado demais as tomas.
Quando o navio se aproximava da barra de Lisboa e o sinal de telemóvel já era suficiente telefonei á minha mulher para me ir buscar e levar ás urgências do hospital de Cascais. Preferi esta solução para estar mais perto de casa e facilitar o apoio que a minha mulher me pudesse dar.
E assim desembarquei de urgência tendo sido operado de urgência á coluna doze dias depois, doze dias de Inferno na Terra.
Apenas a quarta vez que desembarco de um navio para ir para um hospital, a primeira em que fiquei impossibiltado de regressar ao meu navio e terminar um contracto.